sábado, 11 de agosto de 2007

Maquiagem

Eu te afastei por causa do meu batom. Eu sei, você não gostou do meu batom vermelho-berrante.
Vejo a mim mesma passando batom diante do espelho. Gosto tanto da sensação dele deslizando pela minha boca que fico passando durante vários minutos sem me dar conta que está ficando borrado e mais escuro do que deveria. Que inabilidade a minha.
A maquiagem não deve chamar atenção para si mesma, deve ser invisível. Originalmente, deve imitar uma aparência saudável: pele clara, sem manchas, boca ligeiramente vermelha, bochechas rosadas. Nada exagerado, nem a firmeza dos seus traços deve ser percebida. Senão você fica parecendo um palhaço.
Eu te afastei por causa do meu batom. Cor em excesso. Você não gostou ou queria estar usando o mesmo? Talvez eu tenha feito de propósito. Inconsciente calculado. Incrivelmente, isso fez eu me sentir melhor, exibir meu batom vermelho-berrante (a mesma cor que eu uso desde os doze anos (agora tem outras cores dentro dela)).
Pelo menos minha máscara é colorida; a sua é preta e branca. Notam a minha, mas não a sua. Ninguém percebe que todos fazemos parte do mesmo circo, com nossos perfumes, rímels, lápis, saltos, vestidos de gala e batons. Porque só alguns deles são vermelho-berrante.
E a cor do céu, hoje, se confunde com a do batom no meu espelho de bolso. Eu vejo tudo roxo.
E agora, você não gosta de mim porque sabe que eu uso maquiagem. Você é confuso pra mim, difuso pra mim, etéreo e não delineado. Só lembro que você tem lábios femininos. Ficariam bonitos pintados de vermelho-berrante?


"Não há nada de concreto entre nosso lábios/Só um muro de batom e frases
sem fim/É que tudo se divide, todos se separam." Engenheiros do Hawaii