sábado, 10 de novembro de 2007

Sobre o orkut, Deus e o Infinito.

Parece que tudo que todo mundo diz sobre qualquer um em testemoniais no orkut é igual. O quão fabulosa é tão pessoa, especial, amiga fiel, confiável, presente, divertida, o que quer que seja. Em 1024 caracteres, figuras de linguagem suficientes para encher dois livros de poesia. Principalmente metáforas e eufemismos, através do quais defeitos são transformados em qualidades e qualidades exaltadas como se fossem exclusivas. Alguns soam melhores, mais sinceros, mais profundos, proporcionalmente à familiaridade do autor com escrita. O conteúdo, entretanto, não varia muito. Se tudo o que se escreve sobre os outros fosse verdade a geração orkut seria a responsável por elevar o gênero humano a sua máxima potência.
Será hipocrisia? Prefiro acreditar que não. Prefiro acreditar na cegueira. Prefiro teorizar sobre os afetos. Afeto - essa palavra tão feia, tão morna, tão pouco romântica, com uma sonoridade tão distorcida.É ele que cria esse nebulosa no nosso universo - essa que dispersa a luz. Essa que se põe na distância entre as pessoas, que as aproxima e as torna cada vez mais tortas, mais cegas e mais felizes. Eis que essa nebulosa é como o tempo linear. É tão ilusória quanto necessária para evitar o caos. Pois afinal, quem se importa realmente até onde vai universo? O que nos aquece é estrela mais próxima, com toda sua insignificância.
Lendo os que eu escrevi, percebo que sou eu mesma mais um exemplo pra minha teoria. E me questiono - o quão realmente sinceras são minhas palavras. E me respondo - absolutamente sinceras. Procuro uma maneira de fugir do meu próprio cinismo, da minha própria desilusão, das minhas próprias teorias, no entanto eu não consigo. E cria-se um paradoxo nas minhas linhas. Ele está entre aquilo que eu sinto e a parte lógica, meramente matemática do meu cérebro.
E esse é o motivo de eu acreditar em Deus. É isso que extravasa as bordas do copo e está presente em todas as moléculas do meu corpo. É o que me é externo e ao mesmo tempo intrínseco e tão complexo que não pode ser verbalizado.
Em algum momento eu percebo que a verdade não importa. O que importa mesmo são os afetos - tão fluidos que não sei se são líquidos ou se são vapor. Que o que importa é essa linha mágica que conecta as pessoas no vão de suas imperfeiçoes. Essa que marca mais a pele do que arame farpado. E sua luz que, mais azul do que a da fibra óptica, envolve nossos olhos.
Importa mesmo aquele momento quando da lã se fez o fio. E o mundo só não é melhor porque ele não nos conecta a todos. Porque o ser humano não pode ser costurado à carne do mundo. Ele gosta do seu cubículo de repartição pública.

E é sobre isso que falam os testemonais do orkut.