segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Origami

A personagem dessa história é uma menininha. Pequeneninha, fofinha, cabelo chanel e botinhas vermelhas.
Ela ainda não sabe, mas quando crescer será paranóica, obessiva e auto-destrutiva. Mas por enquanto é só uma menininha. Ela gosta de se considerar forte, por isso não chora nunca, não importa o que aconteça. Chorar é coisa de criança. Ela não chorou quando seu coelhinho morreu (como toda menininha, ela tinha um coelhinho), não chora quando se machuca, não chora quando brigam com ela. Ela suporta tudo e às vezes se esquece que é só uma menininha.
Ela anda por uma paisagem ampla, cheia de sol, árvores e lagos. Conforme caminha ela vai crescendo, lentamente, como numa daquelas animações pintadas com lápis de cor. E porque está crescendo, não se importa mais que chorar seja coisa de criança. Mas ainda gosta de se considerar forte. Por isso nunca chora. E engole todas as tristezas, que vão se acumulando dentro dela e deixando-a amarga e triste. Ela não chora, nunca, mas também já não ri. A menina caminha sem rumo pela paisagem, sua vida parece estar envolta numa melancólica monotonia.
Um dia ela ouve ao longe um som como de papel sendo remexido, como se muitos jornais estivessem sendo abertos ao mesmo tempo. O som vai crescendo, se aproximando, ela procura sua origem mas não encontra. Então a menina olha pro alto e vê milhares de tsurus cortando o céu em alta velocidade. Eles voam numa bela e estranha formação flúida, dão voltas, sobem, descem, batendo alegremente suas minúsculas asinhas. Os cantos dos lábios da menina se curvam numa rara demonstração de uma rara alegria.
Mas então, só porque ela sorriu, começa a chover. E os pássaros de papel molham e se despedaçam com a chuva. Agora ela vai chorar, eu penso, e dou um sorriso sádico.
E ela chora. Só que seu choro é quase imperceptível, pois suas lágrimas se misturam com a chuva. Que fazer agora? Ela recolhe o que sobrou dos pássaros um a um, e com seus corpos mortos faz papier mâché.

Tsuru: http://www.youtube.com/watch?v=3iVP0tzwhVc

9 comentários:

Orange disse...

Com este final de texto se explica o motivo da paranóia.
No wonder que essa menininha va ficar assim, afinal, ver um monte de tsurus voando deve ser algo meio loko.
Hum, se vocÊ fizer 1000 tsurus vc pode fazer um pedido,
se você fizer papier mâché você pode modelar o sonho.


Ah, agora o troço da Lasagna faz sentido, eu que adoro a de bolonhesa fiquei espantado pelo gosto por presunto e queijo.
Agradeço ao deus lasagna por eu não assistir ao fantástico, ou mesmo assistir à Globo, ou mesmo assistir à TV aberta. No máximo alguns seriados, e agora nem isso direito porque eu baixo os seriados que me interessam diretamente da net.

Orange disse...

Ah, apesar de eu idolatrar o abstrato eu também adoro Surrealismo, por isso consideresse linkada ^^

Ah, e vi, você conhece o Sr Stefano, ele é muito legal, espero qeu ano que vem eu consiga entrar na USP e possa estudar com ele [se bem que lee vai estar 2 semestres na minah frente]

Iana disse...

Letícia, você realmente tem imagens lindas. E surreais. Não sei porque, mas me lembrei disso: http://www.dexigner.com/design_news/5851.html

Não é Origami, mas é Haiku. Fica tudo em família, afinal.

Ela não chora, nunca, mas também já não ri.

Anônimo disse...

estranho escrevi sobre origami, recentemente.....

Anônimo disse...

Não sei se sorrio inocentemente com a menininha ou se choro por ela...
Uma coisa é verdade...tsurus são tão bonitinhos!!!

Pra que eu não te ponha numa psiquiatra, diz-me que a menininha não é você!! Isso seria tristeza total!! =/

Obrigado por ter lido texto grande!! Ele é um new-Borbas. Algo relativamente relativo. E que é, por excelência, uma daquelas máscaras do tipo Jogos Mortais IV )vá assistir!!(

Orange disse...

Há, Meus sonhos são tolos, por isso que eu gosto da beleza deles. Mas é mais valida a sua interpretação. Você que interpreta os sonhos, not me.

Protobixo sou, e espero que não por mais muito tempo, ouvi dizer que jornalismo é uam faculdade de difícil acesso, porém até que nao passado não fui muito mal, fiquei por um ponto, isso porque eu não queira fazer a prova e fiquei apenas o mínimo de tempo obrigatório para fazer a prova.

Veremos o que ocorrerá neste ano.
Sejam bonzinhos nos trotes, eu sou fraco de espírito, eu fraquejo fácil.

É uma honra dizer que meu jeito de escrita é similar ao so Sr Ovelha, eu acho eles o máximo, o moço e a escrita dele. ^^

Iana disse...

Não sei onde acho isso. Da mesma maneira que eles chegam até você! Por alguém com muito tempo sobrando. =)

Mais textos!
O blog não morreu, só tá descansandinho.

jo disse...

le: mto lindo. gostei mto.
ah, agora vc pode fz tsurus!
hehe.

Guilherme D. disse...

Belo texto Jami!
O desenvolvimento de uma vida se dá de alegrias e tristezas. Sem essas, não há nada de novo, não de concreto é construído e sua vida passa em branco.
Adorei a metáfora.