Sabemos que nada é definitivo (relembro-me disso às vezes, um consolo tanto quanto um castigo), mas nem por isso os processos são reversíveis. Caminhamos através do tempo com os ecos de nossos atos se acumulando uns sobre os outros de maneira tão insuportável que a cada dia que passa eu desejo mais a pureza das coisas iniciais. As causas e os efeitos se sobrepõe e moldam uns aos outros à vista do olhar, encobrem-se em processos confusos e incompletos enquanto nós somos apenas expectadores dessa cruel vingança de nossos filhos.
Das mais minúsculas ações ou não-ações, dos gestos, das falas, das situações, do sentimento, da lágrima que não cai, da ingenuidade e do romantismo, dos erros. Mesmo para o mais exímio observador, nada em nossos atos e em nós mesmos pode indicar tudo o que já passamos e a forma como vivemos. Somos vítimas da inconstância geral do mundo, e todo resquício que fica causa dor.
Me parece que todos acabam por esquecer o passado ignorando o fato de que ele está impregnado em suas roupas, em seu cheiro, em cada célula nervosa, impregnado até naquilo que não está presente. Talvez conseguíssemos lidar melhor com ele se não fizéssemos tanta questão em ignorar sua presença constante. Talvez conseguíssemos nos libertar.
3 comentários:
E mesmos as tentativas de nos desvencilharmos do nosso passado apenas se constituirão como mais algo a ser lembrado com aquele peso horrível.
O que fazer com as nossas experiências e lembranças?
A gente podia colocá-las em arquivos,em ordem alfabética. E daí recorreríamos a elas, quando precisarmos. Mas essa não nos atrapalham, essas são okay. São as lembranças que já demos conta, já se acalmaram dentro da gente, aquelas da infância, de parentes, de festas.
O problema são as que resolvem saltar do arquivo, por estarem muito frescas, ou por serem saltitantes, mesmo.
Com essas não sabemos lidar.
O que fazer com elas?
P.S.: Isso me lembrou a discussão em um dos capítulos do Se.. Inverno, acho que valia a pena ler de novo(!).
Gostei Jami!! Um texto com uma reflexão filosófica bem madura. E me lembrou muito da idéia presente em "A insustentável leveza do ser". Já leu? Se não, leia! Vai gostar...
E, no meu texto, de Umberto Eco só tem "...o nome da rosa..." hehehehehe
Novo poema no blog!
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